"Cool Girls" fazem comunicação: nova trend do TikTok
a área voltou a ser o emprego dos sonhos para as garotas?
Nos últimos meses, uma nova tendência tomou conta das redes sociais, especialmente no TikTok e no Instagram: o movimento "Cool Girls fazem comunicação". A expressão reflete o crescente interesse de jovens pela área da Publicidade, do Jornalismo e do Audiovisual. Mas o que fez esse campo profissional voltar a se tornar tão atrativo?
A ideia de que a comunicação é um universo glamoroso e empolgante não é nova. Assistimos inúmeras comédias românticas protagonizadas por mulheres estilosas e que trabalhavam na indústria da comunicação, vivendo em uma cidade grande e com um copo de Starbucks na mão. Emily Cooper (Emily in Paris), Andie Anderson (Como Perder um Homem em 10 Dias), Carrie Bradshaw (Sex and the City), Andrea Sachs (O Diabo Veste Prada) e Jenna Rink (De Repente 30) foram inspirações para muitas garotas da Geração Z mais velha e Millennials. Mas será que esse sonho passou de geração para geração, ou ele foi esmagado pela realidade?
O impacto do mercado e as expectativas familiares
Lembro quando tinha 8 anos, eu era obcecada pelo filme Barbie: Moda e Magia e meu sonho era viver nesse mundo fashion e mágico. E esse sonho também era de diversas outras meninas que viveram na mesma época que a minha. A ideia de criar vestidos deslumbrantes e viver rodeada de beleza parecia um destino mágico.
Mas algo aconteceu no meio do caminho. Crescemos ouvindo que devíamos escolher carreiras "sólidas", que garantissem estabilidade financeira ao invés de seguir a carreira artística. Os sonhos foram substituídos por profissões mais valorizadas pelo mercado. Em vez de "quero ser estilista", passaram a dizer "quero ser médica".
Não me entendam mal: não estou criticando quem quer ser médico ou advogado. Mas por que ninguém incentiva as crianças a serem artistas, jornalistas ou publicitárias? Por que nos fizeram acreditar que seguir um caminho criativo e comunicativo era um erro?
A pressão do sistema
Desde o ensino médio, somos forçados a tomar uma decisão que vai definir toda a nossa vida. Professores, diretores e familiares nos bombardeiam com frases como "O Enem está chegando, decida logo seu curso!" ou "Minha filha vai ser uma grande médica!". Como alguém de 17 anos pode decidir seu futuro sem conhecer de verdade as opções que tem? Durante toda fase estudantil fomos amedrontados a abandonarmos a carreira artística para seguir uma área que trouxesse estabilidade financeira, pois o sistema capitalista transformou nossa mentalidade à respeito de decidir seguir aquela profissão que garanta nossa sobrevivência.
E mesmo quando escolhemos algo que realmente amamos, enfrentamos resistência. Quando decidi fazer Jornalismo, não foram apenas meus pais que duvidaram da escolha. A maioria dos meus familiares opinaram que não era vantajoso para mim. Frases como "Você deveria prestar concurso" ou "Faça Direito ou Medicina, isso dá dinheiro!" eram constantes. Apesar de toda essa desmotivação, eu estava consciente de que queria seguir a carreira na comunicação, e a única solução que encontrei para lidar com essas opiniões foi ignorá-las. Para mim, não fazia sentido escolher um curso apenas pelo retorno financeiro. Eu sabia que, se seguisse um caminho que não amava, me tornaria infeliz e frustrada. Afinal, quando fazemos algo de que gostamos, nos empenhamos para nos tornar excelentes profissionais, independentemente dos desafios.
A realidade é que muitos jovens desistem de seguir o curso que realmente sonham para seguir a área que seus pais querem ou porque muitos foram desmotivados pelo sistema capitalista, marcado pelo alto custo de vida e jornada de trabalho exploratória.
Acerca disso, vale ressaltar o discurso do sociólogo Karl Marx para entender melhor o contexto em que vivemos:
“A divisão do trabalho oferece a cada indivíduo um determinado círculo de atividade, do qual ele não pode sair; ele é caçado para dentro de um círculo bem determinado de atividades e assim permanece.”
— Karl Marx e Friedrich Engels, A Ideologia Alemã (1846).
Ou seja, o trabalhador não tem a liberdade real de seguir profissões que desejam, pois as condições materiais nos obrigam a aceitar ocupações que garantam nossa sobrevivência.
Mas a comunicação realmente não dá dinheiro?
Há discursos de que trabalhar com moda, publicidade ou jornalismo não garante estabilidade. Mas será que essa crença ainda faz sentido?
Dados mostram que a realidade é diferente:
De acordo com um levantamento do Instituto Semesp (2024), 73,5% dos formados em Publicidade e Propaganda estão empregados.
A Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) aponta que o setor da moda emprega cerca de 1,36 milhão de pessoas, sendo um dos maiores empregadores do país.
Com a ascensão da era digital, as oportunidades para profissionais da comunicação cresceram significativamente. Profissionais dessa área podem trabalhar no marketing digital, social media, assessoria, consultoria de moda e imagem, estilista, produção e audiovisual. O mercado não está morto, ele apenas se transformou.
Conclusão
Portanto, se antes a inspiração das garotas estava nas protagonistas de comédias românticas, hoje elas têm uma nova motivação: o desejo de viver do que realmente amam, impulsionado pelas redes sociais e pelo entretenimento. Ainda há um longo caminho para quebrar o estigma de que carreiras criativas não são viáveis e, sendo realista, essa área ainda enfrenta desvalorização por parte da sociedade, além de muitos desafios a serem superados.
O mercado, ao contrário dessas crenças, continua aquecido, e, com as novas tecnologias, surgem novas oportunidades para se adaptarem à era digital. Talvez, se parássemos de tratar o medo como o principal fator de decisão profissional, mais pessoas escolheriam carreiras que realmente fazem sentido para elas. E quem sabe, no futuro, a frase "Cool Girls fazem comunicação" seja mais do que uma trend do TikTok—e se torne uma realidade para quem deseja transformar paixão em profissão.
Esse texto me fez refletir demais e ainda estou anestesiada. Muito obrigada por dedicar um tempinho e colocar em palavras aquilo que não conseguimos.